sábado, 30 de outubro de 2010

Termina hoje a campanha mais agressiva desde Collor x Lula

Vista como a mais tensa desde 1989, disputa deste ano teve dossiês, boatos, agressões, confrontos de militantes e ataques verbais
Matheus Pichonelli e Rodrigo Rodrigues, iG São Paulo | 29/10/2010 07:05

Com o encerramento da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, termina oficialmente nesta sexta-feira a campanha mais agressiva para a Presidência da República desde a redemocratização. Marcada por troca de ataques e exploração de escândalos políticos, a eleição de 2010 contrariou o modelo que guiou disputas anteriores, nas quais adversários evitavam ataques em debates e discursos para não afugentar eleitores.

Tanto o PT da ex-ministra Dilma Rousseff como o PSDB do ex-governador José Serra dizem ver na campanha deste ano um dos embates mais tensos da história recente. “Foi uma das eleições mais radicalizadas do Brasil nos últimos anos, com radicalizações desnecessárias de ambos os lados e que não contribuíram em nada para formação da opinião do eleitor. Fica a lição para que, nas próximas eleições, as ideias é que briguem e não as pessoas”, afirma o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, senador eleito pelo PSDB.

“Há muito tempo participo de disputas eleitorais, e eu nunca vi uma eleição em que o subterrâneo, a calúnia e a falta de respeito estiveram tão presentes. Lamento, mas posso garantir que isso não partiu do nosso lado”, justifica o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), um dos coordenadores da campanha petista à Presidência.

A campanha deste ano só pode ser comparada à que opôs o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual senador Fernando Collor de Mello na disputa pela Presidência, em 1989, segundo o vereador José Américo (PT-SP). Coordenador da campanha petista naquela eleição, ele relembrou o fato de Collor ter veiculado imagens de uma ex-namorada de Lula, Miriam Cordeiro, acusando o então líder sindical de ter lhe dado dinheiro para realizar um aborto e de não assumir a filha Lurian. Lula, lembra o vereador, também foi acusado de querer invadir casas e proibir cultos em igrejas.

“Foi uma campanha muito intensa”, resume, ao investir na tese de que ataques que diz terem sido lançados contra o PT nesta eleição foram mais “sofisticados e organizados”, sobretudo por causa dos boatos disseminados pela internet. Segundo ele, as campanhas de 1994, 1998 e 2002 foram “relativamente tranquilas” porque os presidentes eleitos iniciaram a disputa na posição de favoritos, e foram eleitos nessa situação.

Collor e Lula, durante debate da eleição de 1989, mediado pelo jornalista Boris Casoy; disputa eleitoral daquele ano foi marcada por acusações e troca de ataques

O senador Sérgio Guerra (PE), presidente nacional do PSDB e coordenador da campanha tucana à Presidência, ironiza as críticas dos adversários e afirma que é o PT, na verdade, quem se especializou em produzir dossiês contra os rivais, como aconteceu em 2006 no chamado escândalo dos aloprados. Na época, petistas foram presos tentando adquirir um dossiê contra tucanos que disputavam aquela eleição - Serra era candidato ao governo paulista e Geraldo Alckmin concorria à Presidência.

“Sou presidente do partido e coordenei a campanha. E gostaria de saber onde é essa central de boato pra mandar desfazer”, rebate. Segundo o dirigente tucano, o que se fala na internet e nas redes sociais é um fenômeno difícil de se obter controle. “A internet tem um papel nisso e expandiu imensamente (os ataques)”.

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